Hoje em dia quando falamos de bairros lembramo-nos de imediato dos bairros sociais, muitas vezes agregados a problemas que lhes dão, de uma forma injusta, má fama. Porém, esquecemo-nos que no centro das próprias cidades existem vários bairros que constituíram, e alguns ainda constituem, a agregação de pessoas, preservando a identidade da cidade, e criando aquilo que nós, no nosso senso comum, chamamos de comunidade.
Hunter dizia que “Pensar no bairro ou na comunidade
isolados da cidade é desprezar o maior facto sobre os bairros/comunidades.”
Esse factor é que os bairros, como as cidades, também têm vários estágios de
vida: nascimento, expansão, declínio e renascimento e devem apresentar quatro
funções principais: função económica, função administrativa e de controlo,
função política e função de socialização. Mas afinal qual a diferença entre
bairro e comunidade? Segundo Barton, o bairro é “(…) uma área residencial ou
mista onde as pessoas podem convenientemente andar. A escala é gerada pelo
acesso pedestre e é essencial uma construção espacial. Pode ter ou não limites
bem definidos. Não está necessariamente centrado em infra-estruturas locais mas
tem uma identidade que as pessoas reconhecem e valorizam.”; enquanto que a
comunidade é “(…) um termo social que não implica um local. É uma rede de
pessoas com interesses comuns e com a expectativa de mútuo reconhecimento,
apoio e amizade.” Porém existe quem ache que este tipo de estudos sobre os
bairros e a tentativa de os cruzar com os das comunidades veio complicar o seu
conceito devido a:
· - Identificação do bairro como “contentor”
dos laços de comunidade assume um papel de poder na organização do espaço que
pode incentivar alguns relacionamentos que não são obrigatoriamente laços
comunitários;
· - Mesmo existindo relacionamento locais
isso não quereria dizer que existam bairros diferentes, podendo haver até
sobreposição de conjuntos de relação local;
· - Os estudos sobre os bairros podem omitir
as principais esferas de interacção, visto que existem laços sociais
importantes fora do bairro, como por exemplo os laborais, enquanto os vizinhos
“desaparecem de manhã e só reaparecem no fim do dia.”
· - O foco no bairro pode dar uma
importância indevida às suas características sociais.
Como se pode constatar não é difícil definir o que é
o bairro mas sim a sua comunidade devido aos hábitos e gostos de cada um.
Porém, nada implica de se construir os bairros tendo em vista as comunidades
sustentáveis que são definidas pelo “Plano para as Comunidades Sustentáveis (ODPM,2003)”
como “(…) lugares onde as pessoas querem viver e trabalhar agora e no futuro.
Elas respondem às diversas necessidades dos residentes actuais e futuras, são
sensíveis ao Ambiente e contribuem para uma melhor qualidade de vida. As CS são
seguras e inclusivas, bem planeadas e oferecem oportunidade e bons serviços
para todos.” Este é um tema que irei abordar na próxima publicação.
Por Hugo Marques coordenador do Pelouro de Urbanismo e Ordenamento Local do CDS-PP Almada